Com dez anos de experiência e mais de dois anos no quadro de funcionários de uma construtora de porte nacional, o técnico em segurança do trabalho Antônio Jorge Araújo, 41 anos, ainda lembra do último dia 15 de abril como se fosse ontem.


Desemprego ganha força na Bahia e é mais forte na construção civil


Foi nesta data que ele passou a integrar a estatística do número de desempregados na Bahia, que, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, já ultrapassa a marca de 841 mil pessoas nos três primeiro meses do ano - 10 mil a mais do que o mesmo período de 2014.


“Nós sabemos que podemos ser demitidos a qualquer momento, mas a verdade é que nunca achamos que isso vai acontecer com conosco”, revela ele, que, como a maioria dos brasileiros, tem uma série de compromissos financeiros para honrar no final do mês.


Araújo é um dos 61.826 profissionais de carteira assinada que, pelo reflexo da crise econômica, perderam o emprego na Bahia em abril, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).


O último dado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado no dia 22, mostra que a construção civil foi o setor mais impactado negativamente no primeiro quadrimestre de 2015, com 41.851 admissões contra 52.249 desligamentos, um saldo negativo 10.398 postos de trabalho.


O quadro piora nos últimos 12 meses, cujo saldo negativo pula para 18.337, colocando o setor no topo do ranking dos que mais demitiram este ano.


Motivos para isso não faltam. O baixo crescimento do país, com queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, a falta de investimentos e o enfraquecimento da confiança dos empresários estão se refletindo no mercado de trabalho, tendência que deve se intensificar ao longo do ano e ainda contaminar o ano que vem, segundo os especialistas.


“Em uma fase ruim da economia é preciso reduzir custos. Primeiro, diminui-se a produção. Se não der certo, aí vem o desemprego. Afinal, um dos custos que pressionam muito as empresas é o salário dos empregados”, afirma o coordenador de pesquisa da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Roberto Pereira.


Segundo ele, esse impacto só não acontece na mesma proporção nos setores que precisam de mão de obra especializada, como é o caso de boa parte da indústria e de algumas áreas de serviços.


O presidente do Sindicato da Indústria da Construção na Bahia (Sinduscon-BA), Carlos Henrique Passos, explica que esse cenário desfavorável no segmento não é uma particularidade da Bahia. “Estamos vivendo um momento difícil no país inteiro. Desde o início de 2014 o setor vem perdendo emprego. Inicialmente, com o mercado imobiliário, que reduziu, e muito, o número de lançamentos”.


Na Leão Engenharia, por exemplo, há dois anos não é lançado novos empreendimentos no estado. Por causa desta retração, o sócio proprietário da construtora, Ivan Leão, conta que precisou reduzir o quadro de empregados de cerca de 800 para 180.


“Além da redução da oferta de crédito e aumento de juros, em Salvador ainda há dois agravantes: a indefinição do PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano) e o cálculo da outorga onerosa”, explica.



Perspectiva


O atraso nas obras do programa Minha Casa, Minha Vida, que terá uma redução de 30% nos investimentos em todo o país este ano, também reflete negativamente, garante o dirigente do Sinduscon-BA.


“O governo federal não vem pagando regularmente. A empresa que não tiver capital de giro terá que reduzir ou paralisar obras. Isto vai gerar mais demissões”, avisa Passos, informando que, na Bahia, há cerca de 40 mil trabalhadores nas obras do programa federal.


E, se depender da perspectiva, o cenário do próximo semestre não será diferente. Para Ivan Leão, o quadro deve se agravar: “Temos que ser otimistas, mas dificilmente essa situação será resolvida este ano. E, sem vendas, não dá para segurar os empregos”.


Para Roberto Pereira, da SEI, este ano realmente será difícil para todos os setores do mercado de trabalho, principalmente, para a construção civil, comércio e serviços. “O aumento da taxa de juros dificulta o crédito produtivo e aumenta o crédito financeiro”, analisa o especialista.


Ele lembra que, na Bahia, o fechamento do Estaleiro Enseada, em Maragojipe, que resultou em quase sete mil trabalhadores demitidos entre novembro e fevereiro, impactou para os números negativos da construção civil na Bahia.


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