[dropcap]O[/dropcap] lavador de carros Eliomar Saraiva de Araújo, 29 anos, foi morto a pedradas, na madrugada de ontem, depois de atropelar e matar o morador de rua Marco Antônio Conceição Cruz, 35, no bairro de Sete Portas. Por volta das 3h, Eliomar trafegava em um Fiesta prata pela Rua Cônego Pereira, em frente à Cesta do Povo, quando invadiu o canteiro central da via. Na hora, Marco, que era conhecido como Larica, dormia sobre colchões velhos na companhia do amigo, o também morador de rua Tiago Raimundo de Jesus, 30.
Marco morreu na hora, após ser atingido pelo carro dirigido por Eliomar, enquanto Tiago sofreu uma fratura no cotovelo esquerdo e passou por cirurgia, ontem à tarde, no Hospital do Subúrbio. A assessoria da unidade afirmou que Tiago não sofreu lesão cerebral e não corre risco de morte.
Revoltado com os atropelamentos, um grupo de cerca de 40 moradores de rua apedrejou Eliomar, que também trabalhava com polimento de carros. Muito ferido, ele tentou fugir, mas acabou caindo no córrego que passa no canteiro central. Lá, o apedrejamento teria continuado. Os corpos de Eliomar e Marco, ambos desfigurados, foram levados pela Polícia Civil ao Instituto Médico-Legal (IML) no início da manhã.
Moradores de rua da região afirmaram que Eliomar trafegava em alta velocidade quando atropelou os dois homens. “Ele veio avoado, correndo muito. Aí, o carro bateu no canteiro e subiu, atropelando o pessoal”, afirmou um dos moradores de rua, sob anonimato. Eles também disseram que o motorista demonstrava sinais de embriaguez e chegou a agir de maneira agressiva depois do ocorrido. “Ele saiu alterando tudo, querendo questionar. Se ele viesse na manha, tudo bem. Mas ele tentou até bater numa senhora que foi lá ajudar Larica”, disse a testemunha.
A informação é contestada por outro morador de rua. “Ele estava embriagado, mas pediu que não fizessem nada com ele”, afirmou a fonte. Segundo um terceiro morador de rua, o grupo tentou impedir que Eliomar saísse do carro e se livrasse do flagrante. “Ele queria se livrar do flagrante, mas ninguém queria deixar. Nessa, a população se revoltou e meteu pedra na cabeça dele”, contou.
Casal
Alguns moradores de rua afirmaram que no momento do acidente havia um casal no carro com Eliomar, informação ainda sem confirmação. Mas a possível existência de mais dois passageiros no carro revolta o vendedor Elielson Saraiva, 26, irmão caçula do motorista. “A gente soube que ele foi prestar socorro a esse casal mas, em vez de socorrer, foi ele quem precisou de socorro”, disse. O carro onde Eliomar estava pertencia a Elielson e havia sido comprado há dois meses.
Na madrugada do acidente, Eliomar, que morava em uma casa com os pais e o irmão Elielson no Pau Miúdo, teria pegado a chave do veículo para prestar socorro. Como todos os moradores da casa estavam dormindo, ninguém chegou a ver o lavador sair de casa.
Pela manhã, a família foi avisada por um vizinho de que Eliomar havia matado e sido morto. “Ficamos chocados”, resumiu Elielson. Eliomar não possuía habilitação. “Mas ele era um bom piloto, tanto de moto quanto de carro. Era tranquilo e prudente, dirigia bem”, afirmou o montador de andaimes Erivaldo Saraiva, 32 anos, irmão mais velho de Eliomar.
Os irmãos rejeitam a hipótese de que ele possa ter bebido antes do acidente. “Ele era tranquilo. Só bebia socialmente”, disse Erivaldo. “Ele estava sem beber”, garantiu Elielson.
Na concessionária onde Eliomar trabalhava há um mês e meio, os colegas lamentavam sua morte. “Era um bom menino. Estamos consternados com a crueldade do crime. Um erro não justifica outro”, afirmou Willes de Aragão, proprietário da empresa.
Larica
Entre os moradores de rua e os comerciantes da região, a opinião sobre a personalidade generosa de Marco era unânime. “Ele era um dos melhores que havia aqui. Não mexia com ninguém”, afirmou o autônomo Adilson Passos, 61, que trabalha fazendo carreto na região.
Corpulento e alto, Larica era usuário de drogas, segundo colegas. Havia saído há cerca de duas semanas de uma clínica de reabilitação. “Ele estava limpo. Tinha até engordado. Ontem tava por aqui tomando sopa, tranquilo”, afirmou um morador. A vítima do atropelamento também costumava catar material reciclável para vender em ferro-velho e ganhar um trocado.
O caso está sendo investigado pela delegada Jamila Cidade, da 1ª Delegacia de Homicídios, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Equipes da unidade estiveram na Sete Portas para recolher imagens de câmeras localizadas nas proximidades de onde o fato ocorreu.
A reportagem não conseguiu contato com a Associação de Moradores de Rua, para comentar o assunto. Já a Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps) não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem.
Até a noite de ontem, o corpo de Marco permanecia no IML, aguardando perícia. Já o corpo de Eliomar será sepultado hoje, às 11h, no cemitério Quinta dos Lázaros.
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