Em um ano, casos de Aids em adolescentes dobram em Salvador


Em um ano, casos de Aids em adolescentes dobram em Salvador

"Nós, seres humanos, somos livres para fazermos as nossas escolhas, porém somos reféns das nossas consequências". O pensamento funciona como um mantra para Maurício Oliveira*, de 49 anos, que há seis convive com o vírus HIV.

Infectado pelo ex-companheiro, com quem estava há 16 anos, Maurício mora há cerca de um ano e meio na Casa de Apoio e Assistência aos Portadores do Vírus HIV (Caasah), onde recebe atendimento médico e psicológico, além de usufruir da infraestrutura do local. Lá, ele mudou a forma de encarar a vida e superou o susto inicial da descoberta.


"No início, eu achava que ia ficar deformado e poderia contaminar alguém pelo simples contato físico. Mas tomei consciência de que, apesar de ser vulnerável a certos tipos de exposição por causa da baixa imunidade, posso viver normalmente e dizer que tenho saúde", destaca ele.


Apesar dos avanços científicos no tratamento da aids e da melhora na qualidade de vida de quem possui a doença, a detecção de novos casos de HIV preocupa as organizações de saúde, principalmente em relação aos jovens.


De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 1980 a 2013 foram notificados no Brasil 43.326 casos de aids na faixa de 10 a 24 anos. Deste total, observa-se uma tendência de aumento entre jovens de 15 a 24 anos. As regiões que sofreram maior aumento nos índices foram a Norte, com 111%, e Nordeste, com 72,1%.


Em Salvador, os índices de novos casos em adolescentes de 15 a 19 anos dobraram em comparação ao ano passado, segundo levantamento da Coordenação de Acompanhamento das DST/Aids da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). De janeiro a setembro deste ano, foram registrados 22 novos casos da doença em jovens desta faixa etária, contra 11 contabilizados no mesmo período de 2013.


"Digo para a garotada que se previna, tenha mais cuidado e não se deixe levar pela emoção, mas pela razão", aconselha Maurício.


Também foi registrado um aumento de novos casos de aids em pessoas na faixa de 50 a 64 anos, que passou de 69 casos (de janeiro a setembro de 2013) para 82 (mesmo período em 2014). Já em relação às outras faixas, o levantamento mostra que houve diminuição dos registros, de janeiro a setembro, conforme quadro abaixo:


Em um ano, casos de Aids em adolescentes dobram em Salvador


De forma geral, a Bahia também registrou diminuição no registro de novos casos. De janeiro a outubro de 2014, foram notificados 619 casos, sendo 401 em homens e 218 em mulheres. No mesmo período do ano passado, o Programa Estadual de DST/Aids registrou 1.183 casos.


Segundo a coordenadora do programa, Jeane Magnavita, a redução é atribuída, em parte, ao atraso na entrada de notificações no sistema de informação, mas também pode ser explicada pela menor capacidade das unidades de saúde em detectar a doença ou, realmente, pela menor frequência de doentes.


Ela ressalta que estes dados se referem, exclusivamente, aos casos de pessoas com a doença (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), já que a infecção por HIV só passou a ter notificação obrigatória a partir de 6 de junho deste ano, por meio da Portaria nº 1.271, do Ministério da Saúde.


Em relação às gestantes, as estimativas incluem aquelas infectadas pelo vírus, não somente as que desenvolveram a doença. Os números passaram de 231 casos, detectados de janeiro a outubro de 2013, para 164 no mesmo período de 2014, alcançando uma redução de 30%.



Teste rápido


Dentro deste processo de identificação e acompanhamento de gestantes infectadas, Jeane destaca a ampliação da oferta de testagem rápida durante as consultas de pré-natal, que proporciona a detecção do vírus e a agilidade no início do tratamento.


Além deste público específico, os casos de HIV também são detectados pelos testes rápidos realizados em diferentes locais da cidade. Em Salvador, de janeiro a setembro deste ano, foram realizados 2.794 testes, com 60 casos positivos.


Após a confirmação do diagnóstico, os pacientes são encaminhados a uma das unidades de referência da rede municipal para iniciarem o tratamento gratuito. (*Nome fictício)


Thaís Seixas/A Tarde    

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