[dropcap]A[/dropcap]pesar de estarem longe da epidemia de ebola que tomou conta do país africano, os jogadores da seleção de Serra Leoa sentem na pele o preconceito que a doença tem causado mundo afora. Jogando as eliminatórias da Copa Africana de Nações, tem sido comum para os atletas – que não voltam a Serra Leoa desde julho justamente para evitar a contaminação – ouvirem gritos como o descrito acima.


Jogadores de Serra Leoa sofrem preconceito por causa do ebola


Mas a atitude não ficou restrita às arquibancadas. Dentro das quatro linhas, os adversários já evitam o tradicional aperto de mãos com os jogadores de Serra Leoa. A troca de camisas depois do jogo – atitude comum e cordial entre os atletas no futebol mundial – também tem sido evitada.


"Ninguém quer ter ebola no seu país. A Serra Leoa está lutando contra isso. E eles jogam isso na nossa cara. Isso não é justo", prosseguiu John Trye ao jornal The New York Times.


A publicação americana destacou em reportagem nesta segunda-feira as dificuldades que a seleção de Serra Leoa têm enfrentado por causa da epidemia do ebola. No último final de semana, o time foi jogar em Camarões – o jogo era de mando dos leoneses, mas foi transferido por causa da epidemia – e acabou tendo que ficar isolado em um hotel para evitar problemas.


Os jogadores chegaram ao hotel que havia sido reservado para eles em Camarões, mas assim que os hóspedes locais souberam da presença deles, começaram a reclamar na recepção. A polícia, então, foi chamada, e a seleção de Serra Leoa teve que mudar de hospedagem – eles foram transferidos para um hotel recém-construído onde ficaram isolados.


No jogo contra Camarões – que terminou em 0 a 0 -, os jogadores leoneses também ouviram os gritos que já se tornaram comuns nos últimos tempos: "Ebola! Ebola!". Apesar dos gritos e do episódio no hotel, os atletas relatam que a experiência em Camarões foi melhor do que a vivida nos países que visitaram em jogos anteriores – República Democrática do Congo e Costa do Marfim.
"Eles apertaram nossas mãos, pelo menos. Não tiveram medo da gente", disse Alie Badara Tarawalli, um representante da Federação de Futebol de Serra Leoa.



Impacto no futebol


A epidemia do ebola tomou conta do oeste da África nos últimos meses - principalmente nos países da Libéria, Guiné e Serra Leoa - deixando mais de 4 mil mortos até agora.


Com o surto da doença, o futebol está suspenso em Serra Leoa desde agosto, e a seleção precisou ‘migrar’ para outros países para disputar as eliminatórias da Copa Africana de Nações de 2015. Mas além de perder o apoio de sua torcida dentro de casa, o time leonês acabou tendo que lidar com o preconceito nas arquibancadas dos outros países.


Em setembro, Serra Leoa tinha o mando do jogo contra a República Democrática do Congo e tentou transferi-lo para Gana. Com a negativa dos ganeses, porém, a partida acabou acontecendo no país do adversário e foi embalada pelos gritos da torcida: "Ebola, Ebola" – a partida terminou em derrota dos leoneses por 2 a 0. Além disso, enquanto estavam no país, os jogadores chegaram a fazer três ou quatro testes por dia para identificar uma possível infecção por ebola.


Jogando contra a Costa do Marfim no mesmo mês – nova derrota, agora por 2 a 1 -, além dos gritos da torcida, os jogadores do país evitaram o aperto de mãos com os atletas de Serra Leoa – em vez disso, eles opataram por um leve toque de pulso. A atitude revoltou os jogadores leoneses. "Apertar as mãos é sinal de respeito", disse o meio-campista Khalifa Jabbie.
"Estamos sendo tratados como se nós estivéssemos andando por aí carregando a doença", contou o atacante Kei Kamara, também ao New York Times.



Campanha


Apesar da discriminação que vêm sofrendo, os jogadores de Serra Leoa tentaram contribuir para a conscientização sobre a gravidade do vírus do ebola fazendo campanhas para arrecadar fundos e ajudar a combater o surto. O meio-campista Michael Lahoud e um amigo começaram a compartilhar a hashtag #KickEbolaInTheButt (em uma tradução livre, "chute o ebola no traseiro), enquanto Kei Kamara disse que deu seus últimos salários para a ONG Médicos Sem Fronteiras e doou comida para os doentes de Ebola em um hospital.


Enquanto isso, Solomon Zombo Morris, o goleiro de Serra Leoa, se disse orgulhoso de representar o seu país, especialmente neste período atormentado pela epidemia do ebola.
"Esta é a única forma que temos para fazer as pessoas felizes", disse Mensah. "Nós devemos essa alegria a eles", disse.


BBC Brasil

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