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No terceiro dia da chamada Operação “Penhasco Sólido”, ou “Margem Protetora”, que já deixou 89 palestinos mortos na Faixa de Gaza, entre eles 22 crianças — segundo fontes de saúde palestinas —, aumentam os protestos de israelenses contra a ofensiva.
As principais ONGs de direitos humanos do país divulgaram informações sobre as vítimas dos bombardeios israelenses no enclave palestino e grupos de esquerda organizam manifestações nas ruas das grandes cidades.


A primeira manifestação ocorreu nesta quarta feira (09/07), no centro de Tel Aviv. Cerca de 100 ativistas se reuniram em frente ao Teatro Habima — teatro nacional de Israel — segurando um grande cartaz com os dizeres: “A Ocupação Está Matando Todos Nós”.



“Políticos se aproveitam do sequestros de crianças”, “Não matarás”, “Cadáveres em Gaza não trarão segurança”, estavam entre as palavras de ordem gritadas pelos manifestantes. Vale mencionar que, no mesmo dia, houve dois ataques de foguetes, lançados a partir de Gaza, contra Tel Aviv. Com isso, a manifestação ocorreu em meio aos ânimos acirrados da maioria da população, que apoia o ataque ao território palestino.
Vários israelenses que passavam pelo local tentaram agredir os manifestantes, mas foram barrados pela polícia. Entre outros xingamentos o mais comum foi “traidores!”.


Com cartazes de "Não matarás" e "Cadáveres não trarão segurança", ativistas protestam contra ofensiva militar de Israel, chamada de "Margem Protetora"

A manifestação foi uma iniciativa do grupo feminista e pacifista Coalizão das Mulheres pela Paz. Grupos de esquerda e ONG’s de direitos humanos israelenses também realizaram protestos em Jerusalém e Haifa e outras demonstrações estão planejadas para os próximos dias.


Duas prisões gigantes


“Inclusive hoje, quando foguetes estouram sobre a cidade que eu mais amo no mundo, sou contra essa operação militar com todas as minhas forças. E os helicópteros de combate que sobrevoam a orla do Mediterrâneo em direção ao sul não me enchem de orgulho e nem de gratidão — o que sinto é angústia e horror”, afirmou Noam Sheizaf, um dos blogueiros de esquerda mais conhecidos em Israel.




[caption id="attachment_2720" align="aligncenter" width="789"]Grupo de palestinos enterra o corpo do garoto Mohamed Mnassrah, de 3 anos, morto em Gaza Grupo de palestinos enterra o corpo do garoto Mohamed Mnassrah, de 3 anos, morto em Gaza[/caption]

Em um artigo contudente, Sheizaf, que mora em Tel Aviv, aponta a ocupação israelense nos territórios palestinos como a raiz da violência e define a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como “duas grandes prisões”, nas quais os carcereiros são as autoridades israelenses.
Segundo ele, na Cisjordânia, as condições dos prisioneiros são “mais leves”, já na Faixa de Gaza, “muito mais duras”. “Lá ninguém entra ou sai. Nós permitimos a entrada de quantidades básicas de alimentos, água e eletricidade para que os prisioneiros não morram. Quando eles se aproximam da cerca, atiramos neles”, disse.


“Os prisioneiros jamais poderão gostar de seus carcereiros, mas existe uma chance razoável de que seus filhos aprendam a perdoar, mesmo que seja apenas para continuar com suas vidas. Obviamente, existe só um caminho para possibilitar que isso aconteça: cessem o fogo, derrubem os muros da prisão, libertem todos os prisioneiros”, pediu o israelense.


Violações da lei internacional




[caption id="attachment_2721" align="alignleft" width="300"]Batizada de Operação "Penhasco Sólido", ou "Margem Protetora", ofensiva já matou 89 palestinos, segundo fontes de saúde palestinas Batizada de Operação "Penhasco Sólido", ou "Margem Protetora", ofensiva já matou 89 palestinos, segundo fontes de saúde palestinas[/caption]

A maior ONG israelense de direitos humanos, a B’Tselem, divulgou informações sobre residências de membros do Hamas que foram completamente destruídas. De acordo com a ONG, o bombardeio das casas das famílias de membros de grupos armados palestinos constitui uma violação da lei humanitária internacional. Segundo porta-voz do Exército israelense, 11 casas já foram bombardeadas e o plano é continuar com essa prática. Na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, um caça F-16 lançou um míssil contra um prédio de três andares, onde havia sete apartamentos pertencentes à familia Kawara. Em um deles morava Ouda Kawara, que, segundo o porta-voz militar, é integrante do braço armado do Hamas. O bombardeio destruiu totalmente o prédio, matando oito pessoas, entre elas seis crianças. Ouda não estava em casa no momento.


Golpe forte




[caption id="attachment_2723" align="alignleft" width="300"]Oficial militar israelense aguarda em café na fronteira com a Faixa de Gaza enquanto soam os alarmes de bombardeios aéreos, não parece feliz com o conflito. Oficial militar israelense aguarda enquanto soam os alarmes de bombardeios aéreos.[/caption]

De acordo com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, “demos um golpe forte contra o Hamas e os terroristas e, enquanto a operação continuar, os golpearemos ainda mais fortemente”. Em comunicado publicado nesta quinta, o premiê também agradeceu o Exército e os serviços de inteligência por sua ação “profissional, dedicada e precisa”.


Segundo Netanyahu as forças israelenses estão fazendo todos os esforços para “evitar o ferimento de civis”. Mas, acrescentou, “inocentes são atingidos pois o Hamas maliciosamente se esconde atrás de civis palestinos”.


Caminho da paz


Em artigo no jornal israelense Haaretz, David Grossman, um dos mais importantes escritores do país, afirma que Israel tentou o caminho da paz “apenas uma vez”, em 1993, ano em que o premiê israelense Itzhak Rabin e o líder da ANP (Autoridade Nacional Palestina)Yasser Arafat assinaram o Acordo de Oslo.


Grossman aponta a “lógica deturpada da desesperança” no texto.“O caminho da guerra, da ocupação, do terror, do ódio, já tentamos dezenas de vezes – e neste exato momento estamos experimentando este caminho novamente, quando foguetes atingem os habitantes do sul (de Israel) e bombas são lançadas contra os habitantes de Gaza. Nós nunca nos cansamos deste caminho. Como pode ser que justo da paz nós desistimos após um só fracasso?”, se pergunta.


[quote]* Guila Flint cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro 'Miragem de Paz', da editora Civilização Brasileira.[/quote]


Fonte: Guila Flint/Opera Mundi

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